JUDAO.com.br

A ideia de um adolescente que cresceu, se desenvolveu e evoluiu com ele, ganhando o mundo e marcando uma parte da história da internet brasileira durante os 20 anos que esteve no ar :)

Numa época sem Google, onde os portais eram um simples "imagemap" e música online a gente só ouvia no formato MIDI, revistas como Internet World e cadernos como a Ilustrada, da Folha de S. Paulo, eram realmente os melhores -- QUIÇÁ únicos -- lugares pra se encontrar algum tipo de curadoria de conteúdo online, se por acaso você não se enfiasse nos submundos de Telnet, Usenet e uma série de nets que eram tratados na época da mesma maneira que hoje se trata a Deepweb. Foi num desses rolês pré-históricos, de papel, que eu acabei por descobri a PutaQuePariu.com, um site criado por estudantes de jornalismo e publicidade de Santos e que era, como o próprio nome dava a entender, um lugar em que você poderia ir tranquilo que encontraria o que tava procurando. Cê sabe, cê já mandou alguém pra lá, já te mandaram também... ;)

Era um site sobre tudo, absolutamente. Cinema, gibis, internet, comportamento. Atualizado uma vez por semana, era como se fosse uma revista, com cada edição trazendo novidades da cultura pop para um público que, por qualquer razão, tinha pouco ou nenhum acesso -- eu, por exemplo, era tímido DEMAIS pra frequentar uma comic shop ou conversar com alguém enquanto escolhia as fitas, de videogame e/ou VHS, que alugaria naquele fim de semana. Foi, como diriam naqueles tempos, uma ~explosão de conhecimento~ que começou a definir os rumos da minha vida, pessoal e profissionalmente.

Oi? CuDoJudasSSsSssS?

Era uma vez um adolescente com tempo livre e acesso a internet. Esse adolescente ganhou uma apostila que ensinava o básico de HTML e, naquele meio tempo em que respondia à centenas de mensagens diariamente no Mandic BBS e acessava aos finais de semana a então conhecida como "world wide web" num Zoltrix 14.400, começou criar, como diria Gilberto Gil, seus websites, fazer umas homepages.

Primeiro offline e depois no saudoso Geocities, esse adolescente tomou gosto pela coisa, chegou a ser TOP10 iBest com uma fan page e, depois de ser apresentado a uma idéia absolutamente horrível e sem qualquer nexo, resolveu juntar tudo o que tinha aprendido online até ali pra criar, em meados de 2000, o CuDoJudas.com. 😬

O primeiro logo!

O site funcionava essencialmente como um repositório de coisas vistas pela internet, mas também tinha textos (que eram atualizados semanalmente) e, o que marcou toda a história dessa brincadeira, uma interação gigantesca com os leitores, nos textos, num guestbook, um fórum e encontros mensais -- os chamados Rangões. :)

Naquele início de século XXI, o sucesso do site foi tão grande que, apesar de sempre escrever que a ideia era "dominar o mundo", acabou saindo de controle. Com uma necessidade de diminuir o consumo de banda do nosso provedor, veio a primeira grande mudança da história do site: sai o repositório de coisas da internet, chegou o repositório de textos -- opiniões, notícias e o que definiria a história do site pra sempre, resenhas de filmes e séries.

The end of the world as we know it

Lembram daquele adolescente que falei ali em cima? Pois então. Já adulto, ele passou por uma situação constrangedora quando precisou dizer qual empresa representava pra entrar num prédio comercial. A cara que aquela moça fez ao ouvir "CuDoJudas.com" era o que faltava para que, agora, o nome do site fosse alterado. Pra qual? Bem... tinha um apelido usado internamente pra se referir ao site. Não escrevíamos, por exemplo, "aqui no CuDoJudas", e sim "aqui no CDJ", "aqui no Judão". Ainda que tenha passado pela nossa cabeça, CDJ não era tão sonoro quanto Judão. E assim, em 2004, todo um novo universo se apresentou e foi abraçado por aquele adolescente-agora-adulto e os amigos que surgiram nos Rangões, no Fórum.

2005: quando o amarelo entrou nas nossas vidas e nunca mais saiu

Foi com essa mudança, nesse momento, que o que eram apenas textos engraçadinhos sobre cultura pop passaram a ganhar um pouco mais de camadas e profundidade. Que o que era apenas um adolescente que virou adulto, passou também a ser um jornalista. Que o site, considerado por muitos uma "besteira de adolescente", começou a mostrar credibilidade -- estávamos, por exemplo, ao lado dos grandes que em 2007 fizeram suas primeiras coberturas in loco da San Diego Comic-Con, pra desespero da história de pioneirismo de uns e outros.

Isso também nos colocou dentro do Portal MTV, em 2009, mudando a nossa história pra sempre.

O efeito MTV

O adolescente, que virou adulto, que virou jornalista, de repente tava lá com a cara na TV. Primeiro com conteúdos do próprio site, depois falando de games no programa da Marimoon e, então, assumindo um programa e o microfone da TV em diversas reportagens e coberturas ao vivo por aí -- sim, eu fui o famigerado VJ da MTV.

Foram dois anos maravilhosos de um crescimento gigantesco, tanto no pessoal quanto no profissional (OLOCO BICHO!), que definiram o resto da história do Judão: no exato dia em chegou ao fim o meu rolê de "artista de TV", como dizia minha Vó, veio o primeiro convite para uma junket internacional, que foram se multiplicando e ficando cada vez mais interessantes. De textos enormes com entrevistas sobre filmes, passamos também a ter vídeos com entrevistas sobre filmes que, por sua vez, traziam também grandes momentos desse mundo das celebridades e das perguntas que todo mundo faz o tempo todo.

Começou com Robert Downey Jr. rindo, terminou com Hugh Jackman parando a entrevista pra dizer que aquelas perguntas eram ótimas. ;)

Depois da entrevista com a Tessa Thompson, um autógrafo no livro de Aniquilação

Passamos também a nos preocupar um pouco mais com o mundo ao nosso redor, que começamos a enxergar com mais atenção à medida que o adolescente que virou adulto já estava com seus trinta anos e pautas mais analíticas e aprofundadas, muitas vezes relacionadas a justiça social, começaram a aparecer mais e mais vezes dentro do site simplesmente porque parecia o certo a se fazer com o poder que tínhamos nas mãos.

Isso fez também com que a última grande mudança acontecesse no Judão, que agora chamávamos de JUDAO.com.br: o fim das hardnews, da corrida pela publicação, e o início de uma presença online mais lenta, com mais tempo pra pensar e escrever (você já ouviu a palavra da iniciativa Slow Web?). A ideia era produzir um conteúdo que, por mais que demorássemos pra publicar, valeria a pena ser lido. Visto. Ouvido.

Eu, Eu mesmo e o Judão

Nesses 20 anos que o site esteve no ar e foi atualizado, eu fiz de tudo um pouco. Implementei e administrei o WordPress por cerca de 15 anos; fiz o design e a programação da enorme maioria dos layouts; cuidava das redes sociais, sendo community manager e redator; apresentava e escrevia a maioria dos roteiros do podcast; escrevia, narrava e editava a maior parte dos vídeos do nosso canal no YouTube; escrevia matérias e críticas para o site; entrevistava um monte de gente famosa, criando a pauta e mostrando a cara no vídeo; e, o mais importante, editava todos os textos que iam ao ar, garantindo assim não só um padrão de qualidade, como também de linguagem do site, ainda que todos os redatores tivessem cada um o seu estilo.

Lembra daquela coisa de interação com o usuário? Era imperativo que, no JUDAO.com.br, o leitor batesse o olho num texto e soubesse quem era o autor. E sempre deu certo. :)

Aquela coleção que todo jornalista tem :)

Muita gente (mesmo, muita) me chamava de Judão e eu confesso que nunca reclamei porque, no fim das contas, tal qual Marcelo D2 e seu filho, eu e o site nos desenvolvemos e evoluímos ao mesmo tempo, um puxando o outro. Se hoje tou aqui escrevendo e você tá lendo isso, é porque existiu o JUDAO.com.br. Se você tá vendo meus outros jobs nesse portfólio, é porque eu um dia criei o JUDAO.com.br. Se eu tive a oportunidade de viajar e enxergar o mundo, foi porque o JUDAO.com.br foi pro ar. Se eu posso dizer que fui VJ da MTV, é porque lá estava o JUDAO.com.br.

Por mais de metade da minha vida, eu existi com o JUDAO.com.br.

Com o tempo, porém, passou a ficar claro demais que não só éramos entidades diferentes, como precisávamos nos separar para que tanto o Judão pessoa ~física quanto jurídica pudessem ter boas histórias pra contar pro resto dos tempos. Assim sendo, desde Agosto de 2020 -- bem no auge da Pandemia, sim! -- o JUDAO.com.br não é mais atualizado. Mas você pode ler todos os textos que eu escrevi aqui, e todos os que editei... aqui. :)